quarta-feira, 1 de dezembro de 2010



Pegando o Vaporetto e tomando no Funicular
Ou o dia que morei em um bairro nobre de Milão

“Milão não tem nada”. “Só tem Mcdonalds”. “Vocês fizeram merda”. Apesar dos avisos de amigos, as passagens estavam compradas. Fomos.
Primeiro os rapazes de Madrid, depois a moça da França, seguida das duas Sevilhanas. Todos no aeroporto de Bergamo, a cerca de uma hora de Milão. Isso porque a Ryanair, conhecida como a companhia aérea mais barata da Europa, tem o péssimo costume de mandar seus clientes para aeroportos secundários, menores. Péssimo hábito.
Na parte de fora do aeroporto a neve nos esperava e, apesar da emoção à primeira vista, (lembrei da neve do natal em “Esqueceram de Mim 25”), aquele gelo só é bonito a distância. Mas, como estávamos em Bergamo e “Milão não tem nada”, fomos à rua, já sem neve e com um frio tolerável.


Fundada no século II A.C, a cidade com pouco mais de 125 mil habitantes é uma típica pequena cidade europeia. Chãos de pedras, construções antigas, todas muito bem conservadas e distribuídas por uma Cidade Alta e uma Cidade Baixa, que dão o charme todo especial da cidadela. Começamos muito bem.
Depois de pegarmos um Funicular para subir até a Cidade Alta, fomos comer. E foi em uma pequena padaria, no topo de uma ladeira, em uma rua apertada e com chão de pedras que tivemos o primeiro contato com a culinária italiana. E ali percebemos que algo de muito bom estava a nos esperar, além daquelas pizzas, de massas leves e recheios impossíveis de serem descritos pelos melhores mestres da arte do escrever.
Deslumbrados com aquela pequena charmosa cidade, saímos de Bergamo com planos de conhecer Veneza no dia seguinte. Antes, uma parada no albergue, que havia sido reservado pela internet, para tomarmos um bom banho, tuitarmos as belezas daquele dia, dormirmos e nos prepararmos para o dia depois.

Até aqui está tudo muito lindo e cheio de pretensões poéticas (ui). Vamos esquentar: o albergue não era albergue e a proprietária do apartamento queria 200 euros de fiança e mal falava inglês e nós não tínhamos onde ir às 22h sem falar italiano e sem conhecer nada de Milão. Acreditem, foi muito mais tenso do que este parágrafo de uma vírgula.
Ficamos no “albergue” e fomos dormir repletos de dúvidas quanto à idoneidade psicológica daquela senhora, que suspeitávamos de recentemente ter aplicado botox nos lábios e do seu funcionário, assessor e talvez amante indiano que a acompanhava na tradução do italiano para o inglês. Ah, só pra constar, nada de wifi, claro.
Acordamos todos inteiros, com os rins nos devidos lugares, nossos pertences, também e, aos poucos, apesar da saudade dos 200 euros da fiança, fomos nos acostumando com a estadia no apartamento em um bairro nobre de Milão.


Aqui uma pequena ressalva precisa ser feita. As próximas linhas serão muito curtas e objetivas porque seria injusto tentar descrever uma experiência que deve ser sentida: Conheça Veneza. Posso lhe garantir que será uma das melhores experiências da sua vida. E isso não é papo de mochileiro abestalhado com o gosto de gelo da primeira comida de neve. Conheça Veneza. Suas ruas de pedra e suas ruas de água. Dê uma volta pela cidade com o Vaporetto. Deixe-se enfeitiçar por aquela cidade diferente de tudo que você poderá ver em uma vida. Experimente as pastas, o sorvete, o café... Repita o mantra eu vou conhecer Veneza.

Voltamos para um dia em Milão e, apesar de não ser uma cidade repleta de pontos turísticos, redescobrimos a ótima culinária e conhecemos pessoas simpáticas que, mesmo no frio, param na rua para ajudar a encontrar o melhor caminho, no esforço de falar inglês, francês e até português.


Acho que, no fim das contas, o que descobrimos, mesmo, é que você faz a cidade que quer conhecer. Bergamo foi uma das mais lindas que vi até hoje e provavelmente estará entre as mais no final desta jornada. Milão tem, mesmo, muitos Mcdonalds, mas há muito por onde se perder em suas ruas. E Veneza... É, deixamos uma parte de nós naquela cidade.

Até a próxima.

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Obs. Eu não posso contar que deixamos de pagar os ônibus algumas vezes em Milão, das corridas para pegar o trem, das inúmeras vezes que nos perdemos, muito menos do jovem bêbado milanês cantando “Hey, Jude, dont be afraid...”, com flores na mão e doido pra entregar a uma das meninas. Muito menos do medo de sermos abduzidos por aquela italiana e seu (amante?) indiano, não é? Esse tipo de coisa pode estragar a reputação do viajante.



*A Louise, Paula, Márcia e Adalton, companheiros de mochilas. É sempre muito bom viajar com vocês. 

2 comentários:

Paula Amor disse...

Me acabei de rir relembrando dessa nossa trip surreal, Egi! Impossível esquecer todos esses momentos descritos por vc. Apesar de vc nao querer acreditar, nao poderia tb ter tido melhores companheiros de viagem! Que venha a próxima trip, chico! :)

Daiana disse...

Ri muito na parte dos rins! kkkkk Amo seu bom humor!!!!!!!!!!