Esta semana, em Salvador, caiu na mídia a notícia de que uma professora de 28 anos foi demitida há dois meses porque apareceu em um vídeo do You Tube dançando uma música de pagode onde o cantor enfia a mão em sua calcinha e a puxa aos gritos de um refrão que diz “todo enfiado, todo enfiado, todo enfiado”, fazendo alusão às calcinhas fio dental.
Além da repercussão na sociedade baiana, a notícia anda correndo o país. Claro, foi na Bahia, foi merda, foi sobre pagode, é notícia no mundo inteiro. Infelizmente, neste caso, não é somente isso que conta, o ato da professora atende aos chamados critérios de noticiabilidade e merece ser tratado como tal.
Mas a conversa aqui é outra. Depois de ver o tal do vídeo, ouvi uma entrevista do cantor que disse que a banda dele toca “aquilo que o povo quer ouvir”, e que nos shows as mulheres vão preparadas para a coreografia, ou seja, com suas calcinhas devidamente enfiadas na bunda e pedem pela música durante todo o “baile”. Engraçado pensar em o que o povo quer ouvir, será que o chamado povo quer ouvir o todo enfiado ou, como eu gosto de dizer, o buraco é mais embaixo?
Em um país como o nosso, onde a sexualidade disfarçada com o nome de mercado cria até manuais de putas para turistas, as mulheres se "permitem" a ponto de se deixarem ser filmadas submissas a um homem enfiando a mão em suas bundas, aos berros de “todo enfiado, todo enfiado, todo enfiado”. Não seria esta cultura da sensualidade exacerbada, das apologias ao sexo e a toda putaria que nos é oferecida uma desculpa para produzir algo com os ideais mercadológicos (dinheiro, lucro e o povo que se foda) de que “é isso que o povo quer”?
É bem verdade que não sou um puritano e acho que cada um tem o direito de balançar a bunda onde bem entender, mas será que são por esses tipos de atitudes que nós, brasileiros, baianos, queremos ser lembrados? Será?
Para mim, atitudes como essa não agride somente à pró dançarina (que, inclusive, declarou que aceitaria pousar nua em revistas masculina), mas a todas as mulheres que lutam diariamente por espaço, igualdade e um lugar de respeito dentro da sociedade. Porque enquanto existirem mulheres dançando o “todo enfiado” por aí, muitos homens continuarão as vendo como objetos, apenas para fazer um “tchuco gostoso”, um “coqueirinho”, colocar a “perereca pra frente e pra trás”, e muitos outros dizeres sexuais da poesia pagodiana. Será que é para isso que lutamos por uma liberdade e igualdade de direitos?
Sem entrar no mérito do certo e do errado, a verdade é que nós vivemos em uma sociedade com valores morais baseados, dentre outras coisas, em exemplos.
E sobre o tamanho de calcinha, me agradam as Ps, as Ms e as Gs, enfiadas ou não, desde que as letras, melodias e coreografias não virem hit no espaço público.
Forte abraço e até a próxima.
2 comentários:
Engraçado você comentar sobre esse caso e dar um enfoque totalmente diferente do que estão falando(se certo ou não ela ter sido demitida). Alías não espera nada diferente!!!
Quanto a ser a música que o povo quer ouvir, eu não vejo tanta polêmica. É uma música que o povo quer ouvir sim. Oxi que besteira, tem gente que gosta de MPB, tem gente que gosta de pagode dessa natureza e tem gente que gosta dos dois. Eu não vejo mal nenhum que alguém goste. O mal que vejo é de quererem tratar todas as pessoas como iguais. Tem gente que dança o "todo enfiado" e tem a moral , para os padrões da nossa sociedade , questionável, tem gente que dança e é uma pessoa que tem um único parceiro sexual, cumpre com suas "obrigações" sociais.
Não sou a favor dessas letras mas acho a melodia (se é que existe) muito boa e contagiante. Acho o pagode um ritmo legal. Não sou de dançar porque além de não saber confesso ter certos pudores.
Ainda acho, mais ridiculo ainda quem olha para uma mulher que estrapola na sensualidade,ou vulgaridade, e quer tomá-la como modelo para as outras. Ai sim, para mim, se manifesta a mente pequena.
No mais o problema disso ai foi ter sido filmado.
Desculpa se falei muita besteira.
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